A expressão padrão HBO é muito usada no audiovisual do mundo inteiro para se referir a produtos televisivos de altíssima qualidade e apelo com a audiência. Mas como o canal a cabo atingiu à credibilidade atual?
Por Willians Glauber
632 prêmios Emmy, 108 Globos de Ouro e 25 Oscars. A HBO não brinca quando o assunto é qualidade das produções para as quais dá sinal verde.
Succession, Euphoria e Watchmen são as produções originais HBO mais recentes a abocanharem premiações por onde passaram. Totalmente distintas entre si, elas resumem bem o que significa o padrão Home Box Office.
Mas qual seria a grande fórmula de sucesso da HBO? Claro que não existe nenhuma combinação de ingredientes mágico que tornam uma emissora a cabo um sucesso estrondoso como a Home Box Office.
Mas é possível analisar algumas características nas produções do canal fechado estadunidense que, com toda certeza, dão indícios de que há no mínimo um padrão de decisões tomadas que resultem em séries, filmes, documentários e programas dignos não só de audiência massiva, como também da apreciação por parte dos principais prêmios da TV mundial.
O EQUILÍBRIO
O primeiro grande sucesso da HBO, que levou a emissora aos holofotes foi a série Sex and The City.
Baseada em livro, a produção ganhou apelo mundial e colocou a emissora em briga direta com os grandes canais abertos estadunidenses.
A partir dali vieram uma enxurrada de sucessos aclamados por crítica e público:
The Sopranos, The Wired (tida como a melhor série da história), Veep, OZ, Six Feet Under, The Big C, The Leftovers. Além de produções comerciais que se deram muito bem no mercado internacional, como True Blood e a mais conhecida do mundo Game of Thrones.
Família Soprano ou The Sopranos é uma das séries HBO de maior sucesso
Desde sua criação em 1975, sendo a primeira emissora americana a entregar televisão por satélite, nota-se uma programação equilibrada entre:
Comédias de humor mais ácido, crítico e que conversam com audiências bastante segmentadas;
Adaptações de obras já aclamadas pela crítica; Superproduções com forte apelo comercial e lucrativo;
E produções que claramente ganham sinal verde dos executivos com o intuito de levar para casa estatuetas das principais premiações da Televisão mundial.
A QUALIDADE
A preocupação com uma altíssima qualidade se ampara em salas de roteiristas renomados, figurões dos bastidores a cargo de departamentos-chave para produções invejáveis e elencos que deixam qualquer filme oscarizado no chinelo.
Tanto que há muito tempo usa-se no entretenimento audiovisual a expressão equivalente a “padrão HBO de qualidade”.
Afinal, sabe-se que seja qual for a produção a ganhar vida pelo canal, ela terá um tratamento que poucas hoje tem a oportunidade de receber na TV. E estamos falando tanto de emissoras abertas, fechadas ou as plataformas de streaming.
E esse altíssimo nível de qualidade reverbera em diferentes frentes, chamando não só a atenção de críticos dispostos a louvarem as produções do canal, como de assinantes felizes em pagar qualquer preço pelo valor em retorno que séries, filmes, documentários e curtas-metragens da HBO dão como recompensa.
Como também chega nos ouvidos de renomes da indústria audiovisual, que passam a querer produzir obras com o selo HBO por conta da certeza de que terão espaço para fazerem a melhor das melhores produções.
Com a manutenção de uma constante de produções de alta qualidade, a HBO consegue empoderar esse círculo vicioso de críticos vs assinantes vs talentos a fim de mantê-lo vivo por décadas a fio.
NARRATIVAS DIVERSAS NA ESSÊNCIA DO ADJETIVO
Além disso, temos um outro nível de qualidade ligado às produções HBO: o da narrativa.
É fato que em todo pacote de produções encomendadas pelo canal teremos ali séries, filmes e documentários cujas temáticas jamais seriam vistas em nenhum outro canal.
Seja por conversar com um nicho de público muito específico, seja por ter um conceito narrativo experimental, que foge do senso comum ou de fórmulas prontas, que arrisca quanto a formato, trama, estrutura e tom de voz.
A DOSAGEM CERTA
O que chama a atenção para outro ponto: a capacidade que a HBO tem de dosar a quantidade de episódios e temporadas das produções de acordo com o que a narrativa pede.
Óbvio que vez ou outra fatores externos obrigam a emissora ou a puxar a tomada da parede prematuramente ou insistir em dar sobrevida a produções de sucesso.
Mas a regra geral na casa é de que cada série tenha o tempo de vida necessário para se desenvolver até um ápice de qualidade criativa.
Mas nem tudo é acerto ali, vide o desligamento prematuro da tomada de Game of Thrones, que entregou um desfecho de série capenga.
Ou até mesmo o posto, como por exemplo a insistência em episódios demais em Westworld, cujas temporadas facilmente fariam bom uso de menos episódios para que as tramas ganhassem tanta consistência como na primeira temporada
Contudo, o canal parece estar equilibrando até mesmo os erros e os acertos. Manteve uma leva de apenas três temporadas para a aclamadíssima The Leftovers e permaneceu fiel ao compromisso de dar a Watchmen o tratamento de minissérie, cuja história se fechou redondinha no final daquele oitavo e último episódio.
A PARTE PELO TODO E O TODO PELA PARTE
E aproveitando a menção de Watchmen, esse é um ótimo exemplo para ilustrar a capacidade que a HBO tem de estruturar suas produções de modo a conversar com o tempo presente.
Vulgo, com espectadores cada vez mais exigentes e demandadores de qualidade, qualidade, qualidade.
Em Watchmen, a gente tem os ingredientes que uma obra mais comercial pede a fim de chamar atenção para si: superprodução com efeitos especiais, elenco com nomes atraentes, raízes em fontes da Cultura Pop e uma história que conversa com diferentes perfis de público.
Mas ao mesmo tempo, somada a essas características mais gerais e que dialogam com uma alta porcentagem dos que consomem conteúdo televisivo, temos o que vou chamar de “camadas HBO”.
Dentro de uma superprodução como essa, por exemplo, ela insere um compromisso em falar com as minorias, com os que estão à margem, com aqueles que não se veem representados em outras produções.
Daí a escolha de atrelar a luta contra o racismo, contra o extremismo, contra o preconceito, colocar no protagonismo personagens negros, idosos, enfim, falar com o maior número de pessoas, mas sob a lente dos que são considerados minoria.
Premissa essa empregada na maravilhosa Lovecraft Country
Esse mesmo parâmetro a gente consegue ver em outras produções atuais como Euphoria, por exemplo, que apela para o gênero adolescente, dá espaço para que os millenials se vejam representados, mas leva ao protagonismo os transgêneros, os negros, as mulheres.
Essa mistura de uma abordagem de cunho mais “independente”, colada a características que gostamos de ver em toda obra blockbuster, constrói uma lógica própria para as produções HBO.
Que são únicas, tão únicas que ao batermos o olho nas primeiras cenas, sabemos que ali tem um dedo da Home Box Office.
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