História de um Casamento acabou de ser indicado em seis categorias no Globo de Ouro 2020, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Atriz e Melhor Ator
Por Willians Glauber
História de Casamento, novo filme original Netflix, é um dos poucos exemplos atuais de uma trama original, simples e com uma carga emocional pesadíssima. O filme foi indicado em seis categorias do Globo de Ouro 2020: Melhor Roteiro Original, Melhor Filme de Drama, Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante em Filme de Drama e Melhor Trilha Sonora
A trama acompanha o processo de separação de um casal junto há quase uma década, uma narrativa que conversa com milhares de casais divorciados e filhos de pais separados, tornando-a muito relacionável com a vida de boa parte da audiência.
Na história, Nicole e Charlie se veem em crise no casamento e a única solução à vista é o divórcio. Mas apesar de acharem que tudo poderá ser resolvido facilmente, as coisas complicam. Muito.
Ao terminar de assistir ao filme, você já fica com aquela sensação de que o longa será indicado às principais premiações do Cinema. E por isso mesmo, eis aqui os cinco motivos de Uma História de Casamento merecer cada uma dessas indicações.
ROTEIRO
Cada palavra, interjeição e resmungo que sai da boca dos atores está no roteiro, nada ali foi improvisado ou modificado pela ator na hora de gravar.
Os monólogos são escritos de maneira cativante e claramente escritos para que o ator brilhe frase a frase.
A maneira como o roteiro se utiliza de artifícios simples, porém inteligentes, para exemplificar as diferentes nuances da relação entre a Nicole e o Charlie é de dar inveja em qualquer roteirista.
Apesar de o texto não querer propositalmente induzir o espectador à reflexão diante de algumas situações, ele não só consegue criar uma trama que incentiva esse refletir, como também exige atenção extrema de quem assiste.
Isso porque toda palavra importa no contexto, tudo o que sai da boca dos personagens é extremamente relevante para a condução da narrativa.
E óbvio que um roteiro não é feito apenas de diálogo. Os artifícios de movimentação e interação (ou não) física dos personagens ajudam a criar a atmosfera de tensão e conflito no ar.
ATUAÇÕES
E esse roteiro impecável precisava de atores que fizessem jus ao trabalho dedicado na construção da trama. A escolha do elenco não poderia ter sido melhor e mais assertiva.
Scarlett Johansson, que dá vida a Nicole, está naquela que pode ser considerada a melhor atuação de sua carreira até hoje.
É possível notar vulnerabilidade dela em cena e a entrega daquilo que a personagem precisa para se construir, como trejeitos e características próprios, é tão grande que se torna impossível encontrar a atriz dentro do personagem.
E a atriz se dispõe a ter uma performance que instigue o parceiro de cena a dar ainda mais complexidade à atuação dele.
Sem apelar para os extremos, no que diz respeito aos momentos de alta dramaticidade, Scarlett recorre às nuances simples e marcantes de seu jeito de atuar.
Para acompanhar tamanha complexidade de atuação, Adam Driver, que vive Charlie, escolheu um tom mais exacerbado, porém, ainda que estivesse na linha tênue que o mantinha a poucos passos de uma atuação exagerada, conseguiu escolher muito bem o modo de lidar com os vários momentos de clímax de seu personagem.
Em contrapartida, Laura Dern pareceu bebe bastante da fonte de sua personagem Renata, da série Big Little Lies, ao sintonizar a frequência da advogada Nora.
Criando uma personagem de ar pomposo, prepotente, mas sem recorrer à arrogância, Laura construiu uma atmosfera para Nora que contrastasse complementarmente à atuação mais mansa de Scarlett. A combinação ficou perfeita!
DIREÇÃO
Por falar em perfeição na hora de combinar, o duo de direção e roteiro de Noah Baumbach veio muito a calhar para que os atores entregassem tais performances dignas de indicações aos grandes prêmios.
Nota-se que Baumbach exige muito da comunicação não verbal dos atores, do gestos à expressão no olhar em cada cena.
Ele se preocupa com os detalhes e por meio de símbolos em cena, que à primeira vista parecem até desnecessários na tela, como um tirar de sapatos, ele conota uma mensagem, uma intenção.
FOTOGRAFIA
Essa comunicação não verbal é sentida por meio da fotografia do longa-metragem, que nutre esse desejo pelo simples, mas que ao mesmo tempo se faz complexo por tamanha simplicidade.
Enquadramentos que enaltecem a atuação ou posicionamentos de câmera que permitem observar a inquietação dos personagens. Esses são apenas alguns exemplos de como a cinematografia do filme conseguiu inserir o espectador no emaranhado de diferentes emoções envolvidas em um processo de divórcio como o de Nicole e Charlie.
MONTAGEM
E todos esses ingredientes tornou muito difícil a tarefa do editor, porque se não bastasse esse peso todo de roteiro, atuação e direção, havia a questão das passagens de tempo nesse processo de divórcio de Nicole e Charlie.
A soluções usadas na montagem favoreceram e muito para que essa cronologia tão espaçada não ficasse confusa no meio da trama.
Outro aspecto muito marcante na hora de editar é a inspiração no teatro, tornando a obra até um tanto metalinguística de certa maneira.
História de um Casamento é dirigido e roteirizado por Noah Baumbach. No elenco principal estão Adam Driver, como Charlie; Scarlett Johansson, como Nicole e Laura Dern, como Nora Fanshaw.
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