Filmes e séries brasileiros estão cada vez mais ganhando espaço na nossa programação de obras a serem assistidas. Mas o saldo poderia ser muito mais positivo se nos esforçássemos mais um pouquinho
Por Willians Glauber
Pois, é, eu também, assim como você, se sentar para fazer uma lista de filmes e séries que consumo todo mês, por exemplo, vou chegar à conclusão de que a maioria deles é produzida nos EUA.
Tudo bem que até há alguns anos, quando se trata de audiovisual brasileira, estávamos presos às produções Globo, aos poucos bons filmes que estreavam nos cinemas e às experimentações independentes de narrativa serializada que surgiam na internet.
INCENTIVO
Mas a aprovação da Leia da TV paga (leia tudo sobre ela aqui) mudou muito esse cenário e desde então passamos a ter uma diversidade maior de produções seriadas e até telefilmes.
Não só as emissoras a cabo, como também as plataformas de streaming estrangeiras que ancoraram em solo brasileiro, se viram obrigadas a produzirem obras originais 100% tupiniquins.
E por consequência disso, obtivemos mais diversidade de narrativas nacionais à nossa disposição.
Mas ainda que sucessos como a série 3% da Netflix demonstrem nosso potencial para obras muito bem-feitas, o público brasileiro ainda torce muito o nariz para o que é feito aqui.
E esqueça as séries, minisséries e novelas da Globo, porque aquelas produções vivem em um universo paralelo de qualidade e investimento que infelizmente não conseguem comparar com o mercado audiovisual brasileiro de modo geral.
Tanto em valor investido, como em abrangência de público, visto que a TV Globo é uma emissora aberta e quase 98% das casas do país possuem televisão com acesso aos canais de TV de sinal aberto.
SÍNDROME DE VIRA-LATA
Muitos de nós brasileiros, que representamos a audiência dos filmes e das séries nacionais, ainda estamos presos naquele comportamento de vira-lata, reforçando que tudo o que vem de fora é melhor, tem mais qualidade. O que não necessariamente é verdade.
Quando eu terminei de ver todas as quatro temporadas de 3% e cheguei ao fim da primeira temporada de Boca a Boca, ambas produções originais brasileiras da Netflix, eu tive as mesmas observações, frustrações e queixas que teria com qualquer outra grande série estadunidense, por exemplo.
E ao mesmo tempo, os aspectos de que gostei nelas seriam os mesmos que eu avaliaria bons e ótimos em qualquer série estadunidense.
Digo isso, porque nossas produções, não só as séries, como filmes também, em nada perdem para diversas obras audiovisuais produzidas internacionalmente.
Óbvio que comparado nas devidas proporções e fazendo justiça ao investimento de tempo, dinheiro e equipe técnica que cada produção tem para dispor.
CRÍTICAS MAIS EMPÁTICAS E COMPREENSÍVEIS
É preciso levar em consideração também que boa parte do nossos audiovisual brasileiro é feito a duras custas, basicamente todo brasileiro que decide ser ator, por exemplo, vai conseguir se aperfeiçoar na arte proporcionalmente ao dinheiro que ele mesmo tem para investir em si.
E esse é o tipo de investimento praticamente vitalício, visto que todo talento nasce de lapidação.
Em um mercado em que atores, diretores, produtores e roteiristas precisam ter outros empregos, que não só o audiovisual, para literalmente sobreviverem, é preciso analisar nossas obras com olhos mais generosos e empáticos.
MAIS SUCESSO, MAIS QUALIDADE
Outro ponto crucial nesse processo todo, é o de que essas obras, que muitas vezes são colocadas à margem por receberem uma opinião preconceituosas de que são de má qualidade, nunca atingirão um ápice qualitativo sem os devidos apontamentos de quem as consome.
Por isso, que nós brasileiros, fãs de séries e filmes, que estamos acostumados a ovacionar as produções gringas, precisamos começar a colocar produções nacionais nas listas de séries e filmes a serem assistidos.
Assim, conseguiremos, sob essa mesma lupa empática e compreensiva, apontar as melhorias que poderão ser feitas em uma obra futura.
Seja para mostrar possíveis caminhos que tragam mais qualidade às produções daquela produtora independente ou ajudar os decisores dos canais a cabo a escolherem produções que conversem mais com essa opinião da audiência que a consome.
Se não sentarmos para apreciar o que é nosso, vai ser impossível lutar por um audiovisual brasileiro de altíssimo nível. E aqueles filmes de comédia pastelão, que acabam levando muito dinheiro para as produtoras e os distribuidores, vão continuar sendo produzidos a rodo.
E por consequência, ocupando espaços de obras que, se ganhassem o devido valor, poderiam levar tanto ou mais lucro do que as comédias, um tanto sem graça, que todo ano invadem as salas de cinema por todo o Brasil.
Prova recente disso é o filme Bacurau, uma produção do tipo que vai entrar para a lista de melhores nacionais e que graças à força de um público fiel, que se esforçava para incentivar que outras pessoas o vissem, conseguiu cair nas graças de um público gigante.
Gigantismo cuja proporção se compara à média de público que um filme do gênero normalmente arrasta consigo para as salas de cinema.
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