Identidade é adaptado do livro homônimo e aborda algo que poucas vezes se discute na sociedade: a passabilidade de pessoas negros de pele clara
Por Maricota
“Ele sabe?”.
Separadas pelo tempo e circunstâncias, Irene e Clare transitam por lados opostos da sociedade norte-americana dos anos 20. Ambas mulheres negras de pele clara, suas escolhas viriam a definir as suas histórias.
As excelentes Tessa Thompson (Cara Gente Branca) e Ruth Negga (Loving: Uma História de Amor) foram escolhidas para entregar o ressentimento e as dúvidas de uma época que não se discutia gênero, sexualidade e maternidade, principalmente quando entrelaçados com raça.
Enquanto Irene manteve-se no Harlem, casada com Brian (Andre Holland), um homem negro, Clare mudou-se para Chicago, casando-se com John (Alexander Skarsgård), um homem branco, rico e racista.
Tal reencontro, anos depois dos tempos de colégio, fazem com que as mulheres olhem para dentro de si em detrimento daquilo que aparentam por fora.
Reconectadas, entregam apenas com o olhar, o estranhamento inicial que logo se transformaria em fascínio, afinal uma acredita que a outra é verdadeiramente feliz, pois escolhera a vida que queria para si.
Visivelmente descontente, Clare logo se aproxima do círculo social de Irene e Brian, mantendo assim uma vida dupla somada aquela que já tinha. Já Irene, expõe sinais crescentes de depressão sem ao menos saber dar nome ao que senti.
Belíssimo e torturante, Identidade é o retrato da vida de duas mulheres que parecem satisfeitas, aparentando terem tudo que um dia desejaram.
O filme marca a estreia da atriz Rebecca Hall (Atração Perigosa) como diretora e roteirista. Intrigada pelo passado de sua própria família e como seu avô passara por branco, não permitindo que sua mãe tivesse a oportunidade de conhecer seus antepassados.
Hall faz uso da filmagem em preto e branco para explorar excessos, levantando questões sobre colorismo, jogo de poder na época e a cegueira da perspectiva branca, afinal como alguém como John poderia perceber as origens de sua esposa, não é mesmo?
Adaptado do romance homônimo da autora Nella Laraen, o livro foi reimpresso recentemente pela HarperCollins Brasil.
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