Mulan finalmente está entre nós e o filme não poderia estar mais maravilhoso! Adaptando a história do clássico desenho da Disney, o longa-metragem trouxe nuances próprias, transformando a obra em algo único e complementar à animação
Por Willians Glauber
Depois de alguns adiamentos, incertezas, muitos teasers e cenas divulgados, a Disney finalmente decidiu que o filme Mulan seria lançado na plataforma de streaming Disney+. Seria incrível ter visto esse filmaço nos cinemas? Seria! Só que infelizmente não foi dessa vez.
Contudo, antes podermos ter a oportunidade de ver de perto o resultado da arriscada empreitada, do que ficar na incerteza quanto ao lançamento.
Bom, mas antes de chegarmos às vias de fato, vamos a algumas considerações?
CONTEXTUALIZANDO TUDO PRA VOCÊ ADORAR O FILME DA MULAN
Sei que pra muita gente, a animação Mulan de 1998 é o desenho da Disney predileto, que é o meu caso.
Pra mim, ele é de longe o melhor filme de animação da Disney entre os clássicos das princesas e a Hua Mulan é de longe a melhor princesa já criada em todo o universo princesístico da Disney!
Dito isso, eu fiquei um tanto #chateado quando saiu o primeiro trailer e percebi que o filme não apenas deixaria de ser um musical, como deixaria de lado muitas das caraterísticas e personagens pelos quais amo tanto o desenho.
Imagino que essa tenha sido a reação de muitos: torcer o nariz diante das primeiras cenas do filme. Mas é bobagem.
O tempo passou, eu fui me informando mais, entendendo mehor os porquês das mudanças criativas e desde então já me preparava para receber Mulan com outros olhos. E de braços abertos.
Algo que precisa reforçado é justamente o fato de que o filme Mulan de 2020 não é uma versão em live action da animação de 1998, muito menos um remake. Se precisarmos colocá-lo em uma categoria, ele está mais para reboot ou adaptação daquilo que vimos lá na década de 1990.
AS PARTICULARIDADES DO FILME
Mas isso não é algo ruim, pelo contrário. A diretora Niki Caro, junto com os roteiristas, faz escolhas muito prudentes, dando soluções inteligentes a desfechos que em um filme do tipo acaba fazendo muito mais sentido.
É preciso reforçar que na época do lançamento de Mulan em 1998, os chineses se sentiram bastante ofendidos com a maneira como a Disney mostrou a cultura da China.
Para eles, tudo ficou muito estereotipado e até caricaturado, portanto uma das tantas missões do novo filme era justamente fazer as pazes com a audiência chinesa.
Para isso, Niki fez escolhas muito prudentes, reforçando não só os aspectos culturais da China, como também estéticos e referenciais. É possível, por exemplo, enxergar referências sutis ao filme O Tigre e o Dragão, grande clássico da China e que ganhou o mundo.
Além disso, a fonte para a adaptação foi a China tradicional, trazendo à tona lendas e mitologias com as quais a cultura chinesa se sente confortável e está muito familiarizada.
Mas não se engane, o longa não foi feito só para agradar ao mercado chinês. Toda a trama foi pensada sim para conversar com a audiência mundial e apelar para temas universais e super pertinentes na atual conjuntura do mundo.
Por tudo isso, o filme Mulan de 2020 precisa ser visto sob novas lentes, que levem em consideração todo esse histórico e o fato de que o longa é algo novo, fresco, que bebe da fonte da animação para criar algo totalmente original.
O longa é uma nova obra, um trabalho que não deve ser comparado à animação que tanto amamos, mas que tinha outra proposta.
A DIRETORAA diretora Niki Caro, à esquerda e a atriz chinesa, Yifei Liu, que dá vida a Mulan, à direita
Antes de entrarmos mais a fundo nos motivos que tornam Mulan o melhor live action da Disney até hoje, vamos dar uma passada pelos trabalhos da diretora Niki Caro, que diga-se de passagem faz um trabalho impecável no longa.
Niki é neozelandesa e tem no currículo filmes como a Encantadora de Baleias e O Zoológico de Varsóvia, ambos adaptados de livros. Além da aclamada série da Netflix Anne With an E, também adaptada de um romance.
O que torna a diretora alguém bastante habilidosa no que diz respeito a captar a essência das obras originais e transformá-las em algo único, diferente do material original.
OS ROTEIRISTAS
No time de Niki estão Rick Jaffa, Amanda Silver , Elizabeth Martin e Lauren Hynek, os quatro responsáveis por costurar a história que vemos no longa de quase duas horas de duração.
De antemão, já comemoremos o fato de termos três roteiristas mulheres comandando uma história 100% feminina e feminista.
Jaffa e Amanda foram parceiros em projetos anteriores, roteirizando filmes como Planeta dos Macacos: A Origem, Planeta dos Macacos: O Confronto , Planeta dos Macacos: A Guerra, Jurassic World: O Mundo dos Dinossauro. Ambos também estão a cargo de Avatar 3.
Elizabeth e Lauren são roteiristas novatas, a carreira delas começou em 2018 com filmes pequenos e curtas.
AS ÓTIMAS SOLUÇÕES DO FILME
Ao estabelecer que a animação de 1998 se tornaria uma fonte de inspiração para algo original e único, o filme Mulan de 2020 coloca para si a missão de criar algo que não só homenageia a fonte, como traz características que complementam e criam uma nova obra totalmente capaz de existir por conta própria.
Indo de encontro ao que fizeram com o live action de O Rei Leão, no qual 90% das cenas foram reproduzidas frame a frame igual ao desenho, em Mulan temos uma releitura de um clássico, uma visitação ao que já era maravilhoso e tinha potencial para se tornar algo ainda melhor.
Algumas das reclamações dos fãs eram a ausência das músicas e dos personagens icônicos, como a vózinha linda da Mulan e o dragão ajudante Mushu. Além de escolhas criativas como a de colocar uma irmã para protagonista, algo que não existia na animação.
As músicas clássicas e marcantes do desenho fazem parte da história de um jeito sagaz, evidenciando momentos cruciais da jornada da heroína e trazendo à tona sensações nostálgicas que ajudam a criar uma atmosfera verdadeiramente emocionante para quem está assistindo ao filme.
Quanto à ausência de alguns personagens, ela é suprida por uma distribuição das funções e características deles em outros e novos coadjuvantes.
Muitas das funções que a avó tinha na animação de 1998, por exemplo, foram passadas à irmã mais nova e escolhas parecidas como essa foram usadas de maneiras que ajudaram a tornar a história ainda melhor.
A Bruxa e a Fênix, por exemplo, que não existiam na animação e ocupam espaços que ora foram de Mushu, ora de outros personagens, trazendo à tona uma atmosfera para que a protagonista brilhe de um jeito diferente e se depare com as situações que a farão crescer ao longo da trama de uma maneira mais sólida.
UMA PERSONAGEM AINDA MAIS PODEROSA EM DIFERENTES SENTIDOS
Essas escolhas ajudaram a construir uma Mulan ainda mais coerente, que faz com que os espectadores acreditem ainda mais na jornada dela, torçam com mais afinco para que ela tenha sucesso na aventura perigosa a que se submete.
Além disso, nos deparamos com uma visão mais contemporânea, condizente com a cultura chinesa e mais pé no chão do que é o protagonismo e o empoderamento femininos atualmente. Esse último um feito que o desenho conseguiu alcançar muito bem e trouxe temas à frente de seu tempo.
Esse teor vanguardista da animação da década de 1990 colocou ainda mais responsabilidades nas mãos da diretora. E ela soube lidar com isso de formas muito inteligentes.
Aspectos que no filme ficaram totalmente diferentes da animação, como, por exemplo, a realocação do pseudo interesse amoroso de Mulan dentro da trama, reforçaram características da personagem que tão necessárias para levá-la à jornada com ainda mais poder nas mãos.
A GRANDE MENSAGEM DO FILME
Outra escolha incrivelmente feliz da diretora foi colocar um ingrediente a mais na história que não só ajudou a empoderar a mensagem inspiradora que a Mulan traz consigo, mas também melhorá-la, reforçá-la. Ainda por cima, com tal escolha por consequência ela prestou ainda mais homenagem à riquíssima cultura chinesa.
Niki matou dois coelhos com uma espadada só!
Na animação de 1998 tínhamos uma mensagem profunda e clara de que é preciso se manter fiel a si mesmo, não importa as circunstâncias e que vale tudo na hora de defender que você ama.
Já no no filme Mulan de 2020 essa mensagem fica ainda mais forte, aliando a tal premissa um recado firme a quem assiste: o que torna você especial, o que faz de você diferente dos outros, é justamente o que vai te levar mais longe e ao lugar em que você realmente merece estar.
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