Nos bastidores de Mulan, a diretora Niki Caro tinha uma baita responsabilidade ao se sentar na cadeira da direção de um filme multimilionário e já com histórico potente atrás de si
Por Willians Glauber
A diretora neozelandesa Niki Caro estava com um desafio de escalas gigantescas nas mãos a partir do momento que assinou com a Disney para dirigir o live action de Mulan.
Ela passaria a administrar um longa-metragem cujo orçamento ultrapassou os US$ 200 milhões, números esses que foram além do que qualquer outro live action recente da Disney.
Como também ajudaria a dar vida uma história que fazia parte do imaginário mundial, carregando fãs de uma das melhores animações da Disney.
E como se não bastasse esses pesos todos, havia mais um em particular que demandaria de Niki soluções criativas inteligentes.
A animação Mulan de 1998 havia sido recebida pelos chineses como ofensa à cultura deles, uma vez que a abordagem da lenda que inspirava a história, bem como as escolhas criativas haviam sido encaradas por eles como uma caricatura do que realmente eram.
A BUSCA INCANSÁVEL E DEMORADA PELA PROTAGONISTA PERFEITA
O primeiro desafio já dava os deslumbres de como o trabalho seria árduo: Niki e os executivos da Disney passaram por uma seleção que contemplou mais de mil atrizes de diferentes partes do mundo para o papel principal.
A busca pela Mulan perfeita começou em outubro de 2016, quando Niki mandou um time de diretores de elenco para cada um dos continentes e fez questão de marcar presença virtualmente em toda pequena vila da China.
Eles estava em busca de uma atriz que pudesse interpretar a Mulan nas três fases: da jovem incerta sobre o lugar dela no mundo até a soldada disfarçada de homem e finalmente a guerreira empoderada.
A atriz em questão precisava ser fluente em inglês e lidar com as demandas físicas, de artes marciais, além de entregar os momentos emocionantes de Mulan com a família.
Niki recorda que seria como encontrar uma agulha no palheiro, mas encontrariam.
O produtor chinês veterano Bill Kong, que posteriormente foi contratado para ajudar a produzir Mulan, alertou Niki de que a atriz teria que ser obrigatoriamente chinesa se o estúdio realmente quisesse emplacar o filme na China.
Todas as atrizes que passaram pela fase inicial de audições foram levadas para Los Angeles. Até ali, já haviam se passado meses selecionando candidatas promissoras, mas então Niki resolver começar do zero.
A busca estava tão difícil e demorada, que a Disney foi obrigada a postergar a data original de lançamento do filme que era novembro de 2018.
Eventualmente, a atriz Liu Yifei ficou disponível para audições, já que no início do processo ela estava indisponível contratualmente devido a uma participação em uma série chinesa.
Finalmente a protagonista Mulan havia sido encontrada e ficou a cargo da atriz chinesa Liu Yifei, um poderoso nome no mercado cinematográfico e televisivo chinês desde 2003.
Liu oferecia o pacote completo: não só era fluente em inglês, como era familiarizada com artes marciais, devido ao trabalho dela na TV chinesa e o mais importante, ela era conhecida no mercado audiovisual da China.
Liu morou por três meses na Nova Zelândia para treinar, de modo a se tornar a Mulan que Disney e a diretora tanto precisavam.
A LIÇÃO DE CASA FEITA PELA DIRETORA
E enquanto a atriz suava na Nova Zelândia, Niki viajava pela China estudando, pesquisando e se munindo do máximo de informações e conhecimento possíveis para o trabalho.
Ela conversou com diversos especialistas, incluindo o maior do mundo na estratégia militar da dinastia Tang.
Ela também estudou a fundo o poema chinês de 360 palavras chamado The Ballad of Mullan (O Conto de Mulan, em tradução livre), obra que contou pela primeira vez a saga da heroína.
Ao mesmo tempo que se deslumbrava com o que encontrava pelo caminho, Niki também ficava apavorada. Ela descobriu que a lenda era tão importante nas vilas principais cinesas que era esinada até mesmo nas escolas.
Em várias vilas por onde passou, os moradores diziam que ali havia nascido a jovem heroína. Esse era o tamanho da responsabilidade de Niki ao contar aquela história tão amada pelos chineses.
OS OUTROS TANTOS DESAFIOS DE NIKI
Niki estava à frente do primeiro filme da Disney com um elenco 100% asiático e cuja classificação indicativa ficaria pela primeira vez em PG-13, devido às cenas de luta.
Mulan foi uma grande aposta às cegas por parte da Disney no trabalho de Niki, já que os filmes anteriores dela usaram cerca de 10% do orçamento de Mulan.
Além disso, a diretora neozelandeza de 53 anos não era a primeira escolha da Disney. Antes disso, o estúdio tentou conversar com diretores de origens asiáticas, como Ang Lee, que estava ocupado produzindo um filme recém-filmado e Jiang Wen.
A história feminista de Mulan se tornou muito cativa para Niki.
Por isso mesmo, para a equipe de Mulan, Nik reuniu uma equipe liderada majoritariamente por mulheres, como a diretora de fotografia Mandy Walker e a figurinista Bina Daigeler, além da maquiadora Denise Krum e a primeira diretora assistente Liz Tan.
Ao ser questionada pelo fato de um diretor ou uma diretora asiáticos não ficarem com o trabalho, ela enfatiza o fato de que apesar de a história ser baseada em uma importante lenda chinesa e se estabelecer dentro da cultura e história chinesas, outro aspecto cultural em jogo era justamente a cultura Disney.
E o estúdio precisava de alguém que soubesse lidar com ambos.
TEST DRIVE
Terminado o filme e já na fase de testes com audiência, a Disney fez sessões com espectadores chineses, incluindo os executivos regionais.
Em uma versão anterior, Mulan beijava o interesse amoroso Chen Honghui na cena da ponte, onde ambos se despediam.
Mas a cena teve que ser substituída, diante do posicionamento dos executivos locais de que aquilo não estava certo culturalmente falando, não conversaria com o público chinês.
LEIA TAMBÉM:
Mulan: a lenda por trás do filme da Disney
Mulan (2020): por que o filme é o melhor live-action da Disney até hoje
Com informações de The Hollywood Reporter.
Toda semana tem textos e vídeos novos.
Mande um e-mail pra gente:
contato@podpop.com.br
Siga a gente no INSTAGRAM!
Curta nossa página no Facebook
