O filme Eternos deixa um gosto amargo e doce ao mesmo tempo, mas constrói bem a nova mitologia do MCU e traz à tona ótimas discussões
Por Willians Glauber
Primeiro eu achei que estava com expectativas demais e por isso saí do cinema sem saber muito bem se tinha gostado ou não de Eternos. Mas depois de refletir mais um pouco, percebi que na verdade fiquei frustrado. Isso porque o potencial do filme era gigantesco, imenso mesmo, mas ele só chegou na porta e infelizmente não a abriu!
O longa se propõe a trazer à tona dilemas éticos que são super pertinentes nessa nova fase do universo cinematográfico da Marvel, principalmente agora que o escopo de tudo é gigantesco. Dilemas esses que poderiam ter sido mais aprofundados, levado os personagens a se questionarem e se confrontarem mais por conta disso.
Uma vida vale mais do que a de milhões? Um planeta vale mais do que galáxias inteiras? Como definir quem é digno de ser salvo? Essas e outras perguntas são feitas ao longo do filme, mas as respostas são curtas, um tanto rasas até.
De modo geral, Eternos é um filme lindo visualmente, ele conseguiu simplificar a complexidade da origem dos Celestias, dos Eternos e dos Deviantes nos quadrinhos e tranformá-la em algo palatável para o universo cinematográfico. O objetivo de explicar a nova mitologia e expandir anos luz, literalmente, o MCU, foi cumprido com louvor.
Já o de apresentar novos heróis capazes de fazer com os quais os fãs se sintam verdadeiramente conectados e por quem sintam empatia… ah, isso infelizmente ficou a desejar. E muito.
Outro ponto que foi vendido ao longo da divulgação do filme foi o fato de que Eternos era uma ode à família, à relação entre esses dez seres supremos. Mas isso foi justamente uma das frustrações, confesso que fiquei querendo ver muito mais interações, situações vividas por todos eles, momentos de intimidade, de construção de uma relação que durou milênios!
Bom, vamos aos pontos altos do filme:
01. Sem dúvida alguma, filmar em locações deixou a experiência visual do longa incomparável. Ter acesso àquelas paisagens e saber que os personagens estavam mesmo pisando naqueles lugares, vendo aquilo, deu uma sensação de pertencimento a cada um deles.
02. As escolhas que eles fizeram para deixar a mitologia dos Celestiais mais palatável, compreensível e fácil de ser conduzida foram certeiras. Você já começa o filme na vibe desse novo território onde está entrando.
03. A diversidade do elenco é realmente algo que salta aos olhos e foi abordada da melhor forma possível: ela simplesmente está ali, não se força a aparecer, nem a se impor. Eles simplesmente são como são.
Isso vale para as cores, os sotaques e as limitações de cada um deles, pois nem todos são super poderosos, mas se complementam, cada um à própria maneira, cada um com a contribuição que tem para dar.
O melhor exemplo disso é o fato de termos um casal gay que simplesmente existe naquele universo, ele e o filho estão ali presentes, demonstram o afeto uns pelos outros e isso se mostra tão natural, que evidencia a humanidade de uma família, levando a gente a se importar muito com os três. E de forma genuína.
04. A fotografia do longa-metragem é um deleite, há diversos momentos em que vocêse vê admirando quase que uma pintura.
05. O filme tem uma textura própria, uma atmosfera diferente daquela que estamos acostumados a ver no MCU.
06. O roteiro conseguiu levar os personagens ao longo da história da humanidade de uma forma que realmente acreditamos no fato de eles estarem vivendo entre nós há milênios.
E agora, os pontos baixos… (rindo de nervoso).
01. Eu queria muito, muito mesmo, ter saído daquela sala de cinema amando os personagens, destacando as características que faziam de cada um deles tão único, relacionável, mas não rolou. Sim, eles têm nuances que os diferenciam entre si, mas não me fizeram me importar com eles, sabe?
O único personagem que você se apega um pouco, por conta da motivação dele, é o Phastos, que se coloca no fogo cruzado para salvar a família. De resto, as motivações dos demais não gera empatia.
Eles não são construídos a ponto de você torcer pra que consigam atingir o objetivo deles. E isso é uma bosta!
02. A relação familiar que eles, em tese, têm, não aparece em tela, pelo menos ela não é construída aos nossos olhos. As interações soam um tanto artificiais, frias demais, ainda que passem a ideia de que se conhecem muito, de que se importam uns com os outros. Mas isso não transparece na tela, não de um jeito impactante.
03. O uso de flashbacks deixou o filme um pouco “jogado” demais. Embora tenhamos acesso a boa parte da trajetória deles na Terra ao longo dos 7 mil anso que estão aqui, as situações viram meros fragmentos soltos, não fazem nos conectarmos com essa presença deles na vida da humanidade.
E o pior, essas situações não servem para uni-los, ou mesmo para estreitar a relação deles, pelo contrário, por diversas vezes os distanciam uns dos outros. Além disso, mesmo ficando subentendido, elas não demonstram como foi a nutrição do amor e apego que passaram a sentir pelos humanos.
04. Alguns momentos que poderiam ter sido usados para agregar mais aos personagens, ficam na superficialidade, detalhes que poderiam ajudar a construir não só cada personagem, como a relação entre eles, ficam avulsos, passam rápido, quase que de forma imperceptível.
05. Uma das características da diretora Clhoé Zhao é justamente usar takes mais fechados durante diálogos mais intimistas, só que a escala desse filme, a grandeza dele, pedia mais e mais takes abertos, pra sentirmos a presença daqueles seres ali em cena, a linguagem corporal deles… enfim.
Eternos decepcionou, mas não por ser ruim e sim por ter tido o potencial desperdiçado.