Hollywood vêm se provando um poço de criatividade cada vez mais escasso. E por isso mesmo a literatura se mostra a cada ano mais detentora do post de fonte de ideias para que séries e filmes possam ganhar vida
Por Willians Glauber
Ai dos canais de TV aberta e a cabo, dos serviços de streaming, dos grandes estúdios de filmes e das produtoras se não fosse a literatura!
Sim, a máquina hollywoodiana está falhando, perdendo os próprios motores e precisa ser movida pela força de páginas e mais páginas de histórias escritas por autores.
A notícia mais recente desse novo normal, que enlouqueceu os fãs dos livros no mundo todo, foi a de que a série literária Percy Jackson, de Rick Riordan, será adaptada pelo Disney+.
Outras produções de sucesso como The Handmaid’s Tale, Big Little Lies, Umbrella Academy, Killing Eve, O Homem Invisível, A Chegada, Mulher-Maravilha, Batman só existem graças aos autores dos livros que as inspiraram.
A lista de filmes, séries e minisséries adaptados da literatura é praticamente infinita. E faz bem lembrar que ela não tem previsão alguma de deixar de lado a tal quase infinidade.
Na última década, já se comprovou que a fonte de criatividade dos roteiristas e produtores hollywoodianos fica a cada dia mais seca. E o reabastecimento vêm das páginas dos livros e das revistas em quadrinhos.
Adaptações e mais adaptações, inspirações livres ou aproveitamento de personagens, seja qual for o nome que se dê, a maioria das histórias assistidas já foram lidas por alguém em algum lugar.
E só caiu minha ficha do quanto isso está ainda mais forte atualmente, quando eu estava preparando uma matéria sobre os lançamentos do novo serviço de streaming HBOMAx e me dei conta de que 90% das “produções originais” eram baseadas em livros.
O que nos leva a diversas análises, as quais vou elencar a seguir.
A SEGURANÇA POR TRÁS DOS NÚMEROS
Os quocientes da equação que resulta em centenas de séries, filmes e minisséries adaptados de livros todos os anos não são nada difíceis de se entender.
O primeiro ponto é o fato de que o sucesso de uma história nas mãos de milhares de leitores já se mostra aos produtores, responsáveis por aprovar ou não os filmes e as séries, algo bastante promissor.
Pela lógica, acredita-se que não só os leitores de tais tramas podem se interessar por assistirem às adaptações, como também os chamarizes de tais histórias podem servir como arsenal para atrair espectadores não leitores para as telinhas e telonas.
E os números comprovam tais teorias. De acordo com a revista Forbes, em um estudo de 2018 feito pela Frontier Economics e encomendado pela Publishers Association, adaptações de livros geram um lucro 53% maior nos cinemas se comparadas a roteiros originais. E estamos falando a nível mundial, ok?
Vamos a um exemplo prático da importância das adaptações para a indústria do entretenimento audiovisual.
Nesse mesmo estudo da Frontier, 43% dos 20 filmes de maior arrecadação no Reino Unido, no período de 2007 a 2016, foram adaptações de livros. Outros 9% eram adaptações de histórias em quadrinho.
Logo, pode-se facilmente concluir que adaptar livros de sucesso em produções audiovisuais é sim um ótimo investimento.
A INDÚSTRIA DA ADAPTAÇÃO
E à medida que nascem mais e mais serviços de streaming, e que a competitividade entre eles e os canais de TV abertos e fechados se acirra, mais segurança se faz necessária.
Demanda-se portanto mais garantias de retorno para que se aprove os altos investimentos em novas produções.
Séries, telefilmes e minisséries precisam estrear com a quase certeza de que vão chamar a atenção de um público consideravelmente grande.
O mesmo cenário se vê entre os grandes estúdios de filmes, sejam os comerciais ou candidatos às premiações. Os olhos se voltam cada vez mais para os escritores candidatos a entrarem nas listas dos mais vendidos.
A aposta muitas vezes é tão alta, que alguns livros já chegam nas livrarias com contratos previamente assinados para que sejam adaptados em produções, seja para a TV, para o cinema e até para ambos.
O caso mais recente é o livro prequel da série literária Jogos Vorazes, que antes mesmo de ser lançado já tem contrato para adaptação.
AUTORES-ROTEIRISTAS-PRODUTORES
E a movimentação dessa indústria das adaptações acaba exigindo de muitos autores adaptados habilidades que vão muito além da escrita.
Justamente porque em boa parte dos contratos, para que as obras sejam levadas ao streaming, canais de TV ou estúdios cinematográficos, há cláusulas que garantem a participação deles no desenvolvimento das produções.
Assinando como produtores, produtores executivos e até consultores, os autores dos livros cada vez mais querem se envolver no processo que adaptará as histórias para as quais tanto trabalharam.
Margaret Atwood, uma das autoras mais renomadas da literatura mundial, quis fazer parte do processo que adaptou O Conto da Aia para a TV.
Além de ser produtora executiva da premiada série de sucesso, ela também é consultora dos roteiristas.
Outro exemplo prático é o fato de que Rick Riordan exigiu, no contrato com o Disney+, que fosse ele o responsável por adaptar as histórias de Percy para as telinhas.
Ele inclusive está trabalhando nos roteiros enquanto eu escrevo estas palavras aqui.
E QUAL O SALDO, AFINAL?
Muitos dinheiros! Brincadeiras à parte, o que se pode afirmar com toda certeza é que dada a fome do audiovisual por histórias cada vez mais apelativas, complexas, densas, interessantes, vendáveis e com altíssimas chances de retorno pesado, a literatura de um modo geral ganha (muito) fôlego.
Ainda que não aconteça com todos os autores e que ser adaptado para a TV ou cinema não deva ser o objetivo final ao escrever livros, esse beber de fontes literárias reforça o impacto da literatura como combustível da indústria criativa audiovisual como um todo.
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