Ter tido um chefe merda ao longo da carreira de todo bom profissional é algo bastante esclarecedor e educativo. Sério
Por Willians Glauber
Era uma vez uma líder (essa é a nossa chefe merda da história e é assim que ela se vende, tá? Líder. Aí a gente vai acreditando. Mas só por enquanto.). Ela dizia que o amor dela era a gestão de pessoas (guarda essa informação). Ela pregava que o diferencial dela e da empresa era justamente o foco no atendimento de qualidade e personalizado (isso é meio inútil pra nossa reflexão, mas um ponto relevante até para contextualizar a coisa toda).
Pois bem, certo dia, essa pessoa em posição de liderança (mal começou e já tá perdendo o título? Sim. Aqui ela trabalhava em uma empresa) se viu diante do erro de uma subordinada (lê-se estagiária, tá?). Algo grande mesmo, que precisava ser resolvido com a máxima urgência e eficiência. Pois bem, a resposta dela diante de tal crise foi a seguinte: “Você que errou, você que conserte. Se vira!”.
Para um observador desatento e que se mantém na superfície, talvez essa cena pudesse soar como uma lição a ser aprendida. Do tipo que faz com que a pessoa entenda que erros geram consequências e que estas precisam ser enfrentadas pelo, digamos, infrator.
Eu gosto de pensar que isso só foi a forma mais porca e incompetente de gerenciar uma crise. Além do fato de que a gata parece que entende de tudo, menos de gestão de pessoas.
A meu ver, a verdadeira lição dada ali teria sido a seguinte: “Veja bem, você cometeu esse erro muito grande e que pode ter consequências maiores ainda. Nós vamos resolver isso juntos e eu vou te mostrar como lidar com uma crise quando ela surgir”.
O verdadeiro líder entende o papel dele no erro alheio. Afinal é a equipe dele. Logo, ele tem a guarda compartilhada desse erro. Se essa estagiária (tadinha) cometeu um erro tão grande, foi porque a liderança deixou que algo de tamanho impacto fosse resolvido por alguém inexperiente. Logo, o crime em questão é culposo com dolo eventual.
O “líder” assumiu o risco de algo dar muito errado diante da falta de maturidade profissional de quem estava por trás da tarefa. Ainda que não desejasse um resultado ruim.
Muito bem, continuemos a acompanhar essa “líder”. Agora anos depois, em outro lugar: na própria empresa que ela fundou (aqui já podemos nomeá-la de Chefe Merda, tá liberado).
Com discursos como “o meu crescimento também é o crescimento de vocês” e “se eu corro atrás de mais clientes, é por vocês também”, ela sempre convocava reuniões via chamada de vídeo a fim de dar as boas novas.
Contudo, quando a notícia não era tão boa, como digamos, a saída de um cliente, a notícia sempre vinha por e-mail ou era entregue por terceiros.
Aqui eu abro um parênteses metafórico para deixar algo bem claro: líderes, os de verdade, e principalmente os donos de empresa, sabem que o crescimento financeiro dele não é igualmente proporcional ao de cada colaborador que compõe o organograma.
Sim, ele sabe disso. E justamente por saber, procura oferecer as melhores e mais confortáveis condições de trabalho, remuneração justa e ambiente agradável justamente para suprir esse buraco entre ele e os colaboradores. Dito isso, continuemos a acompanhar a querida…
Em toda boa nova ela estava presente. Sorrindo, pedindo aplausos, engajamento, que todos ali se importassem. Quando a nova não era tão boa assim, taca-lhes e-mails e intermediários. O círculo vicioso estava estabelecido.
Até que aconteceram duas situações, ambas envolvendo uma redução do salário de colaboradores (lê-se o famoso PJ CLT. Lembra lá do começo, o amor pela gestão de pessoas? Pois é. Sim, só piora).
Em uma delas, a Chefe Merda pediu que um subordinado direto fizesse as vezes de arauto da desgraça e conversasse via chamada de vídeo com o colaborador. Já na outra, o famoso e-mail chegou.
Em um cenário claro de liderança verdadeira, o líder sabe que precisa dar a cara a tapa no amor e da dor. Afinal, ele tem que se mostrar presente para os colaboradores nos melhores e piores momentos. De que outra forma ele vai inspirar respeito? Admiração? Senso de comunidade?
Essas foram só duas situações das inúmeras que testemunhei da Falsa Líder (o termo Chefe Merda soa melhor, não?), capaz de discursar sob aplausos e incapaz de agir com coerência a esse mesmo discurso diante das vaias.
Talvez eu volte com outros causos da Chefe Merda. Por que não?
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