Sabe aquele filme que você achou uma porcaria, mas que aquele seu amigo amou em uma intensidade que viu diversas vezes no cinema, comprou DVD, sabe falas de cor? Pois, é, esse é um sinal de que nem todas as produções foram pensadas para te agradar. E tudo bem.
Por Willians Glauber
A ideia pra este texto nasceu de um comentário em uma das postagens do PodPOP no Instagram. Alguém, cujo perfil vou descrever daqui a pouquinho, deixou sua opinião no post sobre o filme Me Chame Pelo Seu Nome, nele dois homens que se apaixonam no lindo cenário interiorano da Itália).
Bom, o comentário foi o seguinte: “Assisti e não gostei. Filme chato, lento e sem graça”. Até aí, ok. Todo mundo tem todo o direito do universo a assistir a qualquer filme ou série e não gostar.
Além, de, claro poder expressar sua opinião sobre aquilo que consome (embora eu faça parte do time que dispensa comentários um tanto desnecessários, mas, sigamos). E talvez seja bom eu ressaltar que estou utilizando este exemplo prático para analisar algo, ok?
Primeiro, que esse comentário não agregou nada, como muitos comentários nunca agregam nesse buraco negro chamado internet. Segundo, que é sempre melhor justificarmos nossa opinião: por que é chato? Por que achou sem graça? Por que o filme ficou lento? E terceiro, o ponto mais importante e a partir do qual vou destrinchar esse editorial, é o seguinte: nem tudo foi feito para que você goste, nem toda produção foi feita para você, você não é o público-alvo de todos os filmes, séries, documentários, livros. E tudo bem.
Digo isso porque claramente Me Chame Pelo Seu Nome não foi produzido para agradar àquela audiência específica que comentava o post: uma mulher, heterossexual e casada. Ela obviamente não era o target do longa e provavelmente acharia a história um tanto “sem graça” mesmo.
Como ela poderia se ver representada em um adolescente introvertido, que tem seu primeiro amor despertado por um homem mais velho, forasteiro? Como acharia graça em uma história de amor diferente daquilo que 99% dos filmes hollywoodianos produzem para agradar à massa heterossexual? Como se identificaria com o ritmo de um filme, que claramente tem uma estrutura um tanto poética e foi pensado para ser contemplado, apreciado e saboreado por uma audiência sedenta de histórias de amor na quais consiga se ver representado?
As produções audiovisuais, literárias, musicais e artísticas de modo geral estão e serão cada vez mais nichadas, elaboradas para pequenos grupos, pensadas de modo a conversar com pequenas parcelas da sociedade.
Principalmente os trabalhos mais independentes, fora do meio comercial e distante da necessidade capitalista do que chamamos de mainstream (e aqui podemos incluir todas as produções tidas como comerciais, os blockbusters, etc.).
E justamente por isso, é preciso entender e aceitar que um filme como Me Chame Pelo Seu Nome (indicado a quatro prêmios Oscar e ganhador na categoria de de Melhor Roteiro Adaptado) foi feito para agradar a uma parcela pequenininha da sociedade. E, no meio do caminho, acabou adoçando o gosto de muitas pessoas que não necessariamente eram o público-alvo do longa, mas que tiveram a sensibilidade de enxergar o conteúdo por trás da forma.
Indo um pouquinho mais a fundo, é preciso chamar a atenção para o impacto positivo que as produções nichadas causam na sociedade como um todo. Aquilo que não foi feito exatamente para o meu perfil, para o meu gosto, pode sim despertar um senso de empatia na audiência consumidora e amante da arte.
Me Chame Pelo Seu Nome
Dirigido por Luca Guadagnino. Baseado no livro homônimo de André Aciman e adaptado para o cinema por James Ivory. Armie Hammer, interpretando Oliver e Timothée Chalamet dando vida a Elio são os protagonistas do filme.
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