O trabalho vem ganhando novas formas nos últimos anos e a maneira de entendê-lo também se transformou. Ainda bem
Por Willians Glauber
Como diria o Sr. Madruga, o problema não é o trabalho, é ter que trabalhar. Eu sou millenial e a minha geração ainda viveu aquela neura ensandecida de que era preciso moldar a vida em torno do trabalho. Afinal, era função desse supertrabalho oferecer a nós realização, propósito, dinheiro, respeito, credibilidade… E no fim, fomos enganados.
Sim, hoje, eu me sinto um palhaço! Passei décadas da minha vida tentando me encontrar profissionalmente, esforçando-me para encontrar o trabalho perfeito, aquele tão prometido, o dito cujo que me daria um propósito de vida… Alerta de spoiler: ele nunca apareceu.
Sempre fui do tipo que pula de galho em galho, passei por diversas empresas e empregos, sempre à procura justamente daquilo que o trabalho jamais me traria.
Foi só depois de muita bateção de cabeça e sofrimento que entendi: trabalhar não é sinônimo de se encontrar na vida, apenas de pagar os boletos. Nesse quesito, a geração Z foi extremamente feliz!
Muito provavelmente, se essa ficha tivesse caído pelo menos uma década antes, a minha vida teria sido diferente.
O que eu teria feito de diferente? Focado na grana. Ficado lá naquele meu primeiro emprego até hoje e construído uma vida financeira estável a fim de encontrar o meu propósito de vida bem longe do trabalho, de preferência a milhares de quilômetros de distância.
Eu teria me dividido em dois: o que trabalha no piloto automático com foco no dia do pagamento e o que constrói um propósito de vida nas horas vagas.
Quando digo que me sinto um palhaço, é porque por muito tempo eu fiquei querendo que uma profissão me entregasse tudo isso que tanto haviam prometido que ele entregaria. Pra só, infelizmente, muito depois, eu me dar conta de que encontraria absolutamente todo o prometido em qualquer lugar, menos no trabalho.
E em troca, só recebi uma carreira que mais parece aquela velha colcha de retalhos, cheia de funções completamente diferentes entre si e que hoje mais me atrapalham do que ajudam a conseguir uma posição de qualidade em qualquer lugar que seja.
Sou superqualificado demais para ser um simples assistente pessoal e ao mesmo tempo desqualificado demais para ter uma posição de analista sênior numa multinacional.
A crença falida de que um trabalho, um emprego ou seja lá qual nome você queira dar pra essa merda, traria consigo um propósito de vida me levou a ser alguém beirando os 40 anos e que só possui dívidas, incertezas e alguns arrependimentos atreladas ao nome.
Ao mesmo tempo que é triste, é libertador. Ao mesmo tempo que quero chorar de desespero, quero gritar porque essa desilusão do tal “encontre propósito no trabalho” me acordou de um transe.
E assim, consciente, livre, e pobre, sigo tentando entender de que forma sobreviver num capitalismo que quer cada vez tirar mais de mim e me oferecer menos em troca, para finalmente viver.
Gosto bastante deste vídeo:
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