A greve dos roteiristas está a todo vapor, isso vai gerar impactos na indústria no curto, médio e longo prazos, mas como e por quê?
Por Willians Glauber
Pois é, não está fácil para quem trabalha com roteiros lá em Hollywood. A primeira greve de roteiristas em 15 anos está causando estragos já desde o primeiro dia, fazendo com que produções iniciem o modo de pause
Os talk shows, por exemplo, saíram do ar literalmente no dia seguinte ao início das paralisações. Isso porque a sala de roteiro que acontece no médio e longo prazo para produções ficcionais e de reality shows, no caso dos programas de auditório são diárias!
Vale ressaltar que a última greve dos roteiristas nos EUA aconteceu entre 2007 e 2008, ela acabou durando nada menos do que 100 longos dias.
Mas, afinal, por que uma greve nesse nível de paralisação? O que os roteiristas estão reivindicando e o que os estúdios têm a dizer em contrapartida?
VAMOS AO DEVIDO CONTEXTO
Para entender o clímax atual, é preciso entender o panorama desse setor hollywoodiano. Antes do início da era dourada dos streamings, digamos que o trabalho do roteirista era mais… valorizado.
Quando um canal dá sinal verde para uma produção, é criada a chamada sala de roteiristas, o sala de roteiro. Ao longo dos anos, tornou-se tradição haver nessa sala em média 12 roteiristas que então passam a se reunir diariemnte durante pelo menos 10 meses para escrever uma temporada completa de 22 episódios.
Dito isso, é bom ressaltar que cada vez menos temos temporadas tão longas assim, com exceção de medalhões da TV como Lei e Ordem, Grey’s Anatomy e afins, nem toda série consegue passar dos 20 episódios por temporada.
Com a entrada dos serviços de streamings no jogo e a popularização de temporadas cada vez menores, algumas tendo até mesmo apenas 6 episódios, essas salas de roteiristas passaram a ficar cada vez mais enxustas. Por consequência, menos roteiristas passaram a ser contratados.
Ainda que mais produções começassem a ser produzidas, menos roteiristas estão hoje envolvidos no processo de criação delas.
Outro ponto importante é o de que cada roteirista passou a trabalhar por menos tempo em uma produção, isso ainda aliado ao fato de que eles são dispensados mais cedo no processo de pré-produção, produção e pós-produção.
O que significa que se antes eles participavam da fase de produção de uma série, hoje isso é cada vez menos comum, logo, a fase em que se ocupam com umt rabalho fixo se tornou menor conforme a nova forma de estruturação passou a vigorar.
Um dos pontos de mais atenção reforçado pelos roteiristas é o de que quando uma produção faz parte de um canal aberto ou mesmo fechado, eles ganham royalties proporcionais ao sucesso de cada programa.
Dada a transparência quase nula das plataformas de streaming, um roteirista dificilmente sabe se a série cuja sala de roteiros ele fez parte é um sucesso de audiência entre o público ou não. Então, ele nunca sabe o quanto esse mesmo sucesso está gerando caixa para essas mesmas plataformas.
Os roteiristas querem ganhar parte do lucro obtido graças à série, ao programa e filme originais em questão presentes nos catálogos dos streamings.
A GREVE E AS REIVINDICAÇÕES DOS ROTEIRISTAS
Diante desses e de outros problemas, que vou elencar mais à frente, os roteiristas decidiram se juntar e simplesmente parar. Organizados pelo Writers Guild of America (WGA), que é uma espécie de sindicato mór dos roteiritas nos EUA, eles passaram a demandar mudanças estruturais na forma como os estúdios trabalham com roteiristas.
Eles acusam, entre outras coisas, os estudios de estarem transformando o trabalho deles em um mero freela.
Entre as 21 propostas sugeridas pelo WGA está a estipulação de um número mínimo de roteiristas por sala de roteiro, podem partir de 6 até 12 membros. Outro ponto é a garantir que os roteiritas possam ficar pelo menos 10 semanas consecutivas envolvidos no processo de produção daquilo que eles criam.
Outro pedido consiste no pagamento igualitário quando se trata de filmes lançados nos cinemas e nos streamings, neste último caso os roteiristas estão ganhando menos do que se roteirizassem um longa a ser veiculado nas telonas.
Há ainda um ponto polêmico, pertinente e bastante atual entre as reclamações dos roteiristas: o uso de inteligência artificial no processo de criação dos roteiros.
Os roteiristas acusam os estúdios de usarem sistemas de inteligência artificial para criar e/ou complementar roteiros. Eles querem uma garantir de que não se tornarão meros revisores e editores.
Dessas reivindicações todas, até agora os estúdios concordaram com apenas 6 delas!
A respeito do dinheiro em si, envolvido nas negociações, o WGA está pedindo acréscimos anuais no pagamento dos roteiristas que giram em torno dos US$ 430 milhões, os estúdios estão oferecendo US$ 86 milhões.
O QUE OS ESTÚDIOS ALEGAM
O órgão Alliance for Motion Picture and Television Producers se defende das acusações, insistindo no fato de que os estúdios já oferecem benefícios suficientes para os roteiristas, como licença materinidade, por exemplo.
Eles defendem que o trabalho semanal ou por episódio já acontece há certo tempo e que isso não estaria tornando a função em um modo freelancer de se trabalhar.
Os estúdios também estão se mostrando relutantes em concordar na imposição de um piso de pagamento para os roteiristas, bem como uma quantidade mínima de roteiristas para cada sala de roteiro.
MAS E AGORA?
Os analistas e jornalistas especializados no assunto apontam que a greve dos roteiristas não possui nenhum vislumbre de chegar ao fim.
O própria WGA reforça que a paralisação não vai parar enquanto não houver um acordo considerável, palpável e firme entre as partes.
A consequência direta está no fato de que séries, mesmo as já consolidadas, estão fadadas a terem suas novas temporadas ou abreviadas ou mesmo canceladas. Alguns estúdios, já sabendo da possibilidade de greve, fizeram de tudo para adiantarem as produções, mas não é um caso generalizado.
Portanto, é possível que em 2023 tenhamos menos opções de coisas novas para ver, já que a fábrica da maior porcentagem de entretenimento do mundo tem endereço certo em Hollywood.